Venho de uma família de muitas professoras e quando digo muitas
, não estou exagerando.Mãe, tias e primas envolvidas com a arte da Educação, em nossos encontros o assunto ESCOLA é presença certeira, entre um relato e outro, logo surge um incomodado
que sentencia “agora chega de falar de escola!”, mas a ordem nunca é obedecida,
afinal, como não falar daquilo que é parte da sua vida?No meu caso, permitam-me
o paradoxo, parte que é um todo, eu explico, minha mãe lecionou por muito tempo em escolas rurais e inclusive morou em uma delas...comigo!O lugar era um pouco longe da cidade e para compensar o pequeno salário, ficávamos na escola durante a semana e voltávamos para a cidade na sexta-feira ao entardecer.Tinha
quase dois anos de idade e passei um ano convivendo entre carteiras, cadeiras e
alunos!E só me dou conta disso agora!
Presenciei o trabalho de minha mãe em várias oportunidades,
acompanhei muitas de suas aulas em salas multisseriadas(aquelas que o
professor leciona para quatro séries ao mesmo tempo!!).Adorava quando podia participar
das suas aulas, lembro dos cartazes, das tarefas e até de alguns alunos.
Tenho a lembrança de sair aos prantos ainda de pijama atrás
do carro para poder ir com ela à escola, mas meus passos pequenos nunca
alcançavam aquela velocidade e eu ficava pensando por que tinha que ficar?Logo
resolvi o problema...
Em casa havia uma edícula , ganhei uma lousinha, giz e
apagador, pronto!Virei professora aos oito anos de idade!Transformei aquele
espaço em uma sala de aula e minha vítima, digo, aluna, era minha irmã.Aos
cinco anos de idade ela estava completamente alfabetizada!Claro que meus
métodos eram um pouco duvidosos, faltava didática e principalmente paciência!Não era raro interrompermos a "aula" entre puxões de cabelo e a intervenção não tão pedagógica da diretora, no caso, a minha mãe.Tentei
alfabetizar um primo na mesma época, mas meu jeito de ensinar causou a primeira
evasão escolar daquela sala.
Em casa era comum dividirmos espaço com muitos livros, eles
também estavam no carro constantemente, a escola sempre fez parte do meu
cotidiano, acompanhava atenta as conversas das tias e das primas nas rodas da
família, tentava guardar na memória cada relato exitoso, lembro de um dia ter
acompanhado a tia Rosalina em uma aula no sítio, me fiz aluna, mas na verdade
minha atenção era para cada detalhe de
sua ação com os alunos, ali fiz o meu segundo estágio(porque o primeiro havia
sido com minha mãe).
Conforme o tempo foi passando tive vontade de ter muitas
profissões( juíza, psicóloga e fonoaudióloga), acabei sendo tudo isso,
tornei-me professora!Logo quando ingressei como professora efetiva do Estado, fui desafiada por uma colega de profissão,
“vamos ver até quando você mantém este brilho nos olhos”, pois é, diante da
minha história creio que fica mais fácil compreender que minha paixão pelo
ensino é algo antigo e que aquele brilho nos olhos...ah!Ele ainda está aqui!